Cantor, compositor e violonista paulista, Vinícius Duran anuncia o lançamento de seu primeiro disco solo com o impactante single “Bandeira Vermelha”. O título faz referência ao brado conservador que teme uma suposta ameaça comunista, enquanto brasileiros – em geral, pretos, pardos e pobres -, têm seu sangue estampado nos noticiários. Duran transforma o trágico episódio do assassinato do músico Evaldo Rosa dos Santos em um samba de letra marcante, com participação especial da cantora Adriana Moreira.
Assista ao clipe “Bandeira Vermelha”: https://youtu.be/WJTenAYBYgQ
Ouça “Bandeira Vermelha”: https://tratore.ffm.to/bandeiravermelha
Na notícia que chocou o país, Evaldo teve o carro alvejado por mais de 250 tiros de fuzil .62. No veículo, estavam também sua esposa, seu filho de 7 anos de idade, uma amiga da esposa e seu sogro. O músico morreu na hora, e Luciano Macedo, um catador que tentou ajudar a família-alvo, ficou ferido e morreu 11 dias depois. A família do músico, em protesto, carregou uma bandeira do Brasil manchada com sangue e a exibiu às câmeras que cobriam o sepultamento. Uma fotografia dessa bandeira chegou a estampar a capa da revista Veja.
O atentado ocorreu em 2019, momento em que discursos beligerantes ascendiam aos altos poderes da república e passaram a reverberar nas camadas mais reacionárias e conservadoras da sociedade. Wilson Witzel, na época governador do Rio de Janeiro, bradava ameaças às camadas mais vulneráveis da população e comemorava a morte de criminosos na frente das câmeras. O caso dos “80 tiros”, como ficou conhecido à época, dado a um erro de informação sobre o número de disparos divulgado pela imprensa, tornou-se um símbolo, como tantos outros antes e depois dele, da violência exercida pelo Estado contra as populações periféricas nos grandes centros urbanos.
“A grande contradição, que uso como mote no refrão deste samba, é que a corja que brada o desgastado lema ‘a nossa bandeira jamais será vermelha’, é a mesma que aplaude e corrobora com as políticas de extermínio que ceifam a vida do nosso povo e tingem com sangue a nossa bandeira”, resume Vinícius.
O músico prepara os primeiros passos de sua carreira solo após uma vida inteira dedicada à música. Os sons da zona leste de São Paulo, onde cresceu, povoam seu imaginário, indo da MPB ao samba. Na adolescência, conheceu o rock, aprendeu a tocar violão e passou a integrar a banda de pop rock Atomix. Depois de um hiato da música, que o levou à faculdade de Rádio e TV e a fundar a Rústica Produções, voltou a atuar como instrumentista com um repertório misto de autorais e releituras.
Em seguida, passou a frequentar a Ala de Compositores do Kolombolo e a Comunidade do Samba da Vela, reconhecidos celeiros de compositores da capital paulista. Em 2018 fundou Fiat Lux, grupo de samba e pesquisa que busca defender músicas e compositores que não tiveram o devido reconhecimento pela indústria mainstream. Com repertório que inclui nomes como Talismã, B. Lobo, Toinho Melodia e Douglas Germano, o grupo teve em 2019 uma pequena turnê de apresentações em Salvador, na Bahia, onde tocou em lugares icônicos, como a Casa de Mãe.
Como compositor, Vinícius Duran teve “Filho”, uma parceria com o amigo Nico Antônio, selecionada para o Festival Musicanto, em 2018. A música foi defendida pelo grupo Nico Antônio e os Filhos do Mar, que posteriormente a incluiu no repertório do disco “O Paquiderme”, lançado em 2021.
Agora, Vinícius se prepara para lançar seu primeiro trabalho solo, o disco “Palavras Marginais”, que conta com 10 canções autorais mesclando as diversas influências do artista. O álbum tem produção musical de Renato Enoki e conta com a participação de músicos como Henrique Araújo, Júlio César e Allan Abbadia, e será lançado em breve. Enquanto isso, é possível ouvir “Bandeira Vermelha” nas principais plataformas.
Crédito: Luan Cardoso
Ficha técnica
Músicos:
Vinícius Duran: voz.
Adriana Moreira: voz (participação / feat).
Flora Poppovic: coro.
Marina Siqueira: coro.
Tata Alves: coro.
Cadu Ribeiro: coro.
Gregory Andreas: coro e cavaco.
Renato Enoki: Arranjos, Violão 7 cordas, Violão 6 cordas.
Júlio César: Percussão geral.
Cláudio Oliveira: Bateria.
Técnica:
Gravação banda base: Ricardo Martins (Estúdio Sambatá).
Gravação coberturas: Guilherme Lacerda (Biriguibam).
Gravação voz Adriana: Marcos Alma (Nheengatu).
Edição e Mixagem: Pedro Romão.
Masterização: Maurício Gargel.
Arte de capa: Løpz
Letra
Bandeira Vermelha
é…
tente não mentir para os teus filhos
tente não fingir ser um herói
daqui eu tento não querer vingança
e peço pro meu filho ser alguém de paz
ainda que ele lembre do meu corpo
e do som estonteante das rajadas dos fuzis
ainda sinto o gosto do meu sangue
e hoje canto este samba aos soldados do país
vermelha é sim a cor da nossa bandeira
vermelha, ela é vermelha
negamos no lema o amor
não há mais estrelas no anil
tingi com sangue a bandeira do Brasil
negamos no lema o amor
não há mais estrelas no anil
é o meu sangue na bandeira…